Cirurgia com o doente acordado - "Awake Surgery" - O que é?
Existe um número crescente de indicações para a realização de cirurgias com o doente acordado, a tumores cerebrais e outras lesões, próximas de áreas sensíveis do cérebro. Este procedimento é designado como mapeamento funcional intraoperatório com o doente acordado ou, mais simplesmente, cirurgia com o doente acordado. Com esta técnica, o neurocirurgião consegue remover lesões que seriam, de outra forma, inoperáveis devido ao risco de causar danos irreversíveis, quer no acesso quer na remoção das mesmas.
Este mapeamento tem vindo a impor-se e é feito mais frequentemente quando os tumores estão localizados próximo de áreas de linguagem.
Quando os tumores invadem o cérebro sem margens em relação às áreas funcionais importantes, como é o caso de certo tipo de gliomas, os neurocirurgiões, recorrendo a esta técnica de cirurgia com o doente acordado, obtêm mais informação e segurança para remover a maior quantidade possível de tumor sem causar défices neurológicos importantes no doente, permitindo assim melhorar a sua qualidade de vida e a sobrevida global.
Como funciona a cirurgia com o doente acordado:
A opção de avançar para este tipo de cirurgia é tomada em trabalho de equipa pelo neurocirurgião, o neuroanestesista, o psicólogo e o terapeuta da fala que decidirão se o doente é ou não elegível para o efeito. Na base desta decisão estão os seguintes fatores:
- Reconhecimento da importância do procedimento acordado para a remoção do tumor/lesão, preservando áreas críticas do cérebro
- Condição de saúde geral do doente (não indicada em doentes obesos, p.ex.)
- Capacidade do doente de permanecer calmo durante o procedimento para que possa responder ao terapeuta da fala e ao neurocirurgião
- Capacidade do doente para realizar as tarefas do mapeamento antes da cirurgia (se houver defeitos de linguagem importantes antes da cirurgia, não está indicada a cirurgia com o doente acordado, p.ex.)
Se a cirurgia com o doente acordado estiver indicada e o doente concordar, o neurocirurgião e o neuroanestesista explicar-lhe-ão em detalhe todo o procedimento, respondendo às questões que surgirem.
Na cirurgia, o doente é então colocado na posição em que vai ser operado acordado, de maneira a reportar qualquer desconforto que possa estar a sentir. Quando se alcança uma posição confortável, é colocado sob anestesia geral para a exposição do cérebro a operar.
Para mapear o cérebro é necessário acordar o doente a meio do procedimento e pedir-lhe que realize determinadas tarefas, como contar ou ir nomeando imagens que vê num ecrã de computador. Durante estas tarefas, o neurocirurgião irá estimular o cérebro e o tumor com pequenos eléctrodos. Esta estimulação produz um defeito transitório neurológico sempre que se atinge uma área crítica. É assim que se identificam estas áreas para depois delinear a melhor estratégia de remoção da lesão.
Durante todo o procedimento, o neuroanestesista assegura-se de que o doente não sente qualquer tipo de dor e monitoriza as suas funções vitais, permitindo que se mantenha calmo até ser novamente submetido a anestesia geral para o encerramento.
Esta cirurgia depende do funcionamento eficiente de toda uma equipa que envolve psicólogo, terapeuta da fala, enfermeiros, neuroanestesista, neurocirurgião e o doente.